Falta de higiene, maus-tratos e estelionato: lar de idosos aberto há menos de um ano é alvo de oito investigações policiais no RS

  • 24/04/2024
(Foto: Reprodução)
Responsável pela clínica nega as irregularidades. Alegação é de que as denúncias foram feitas por familiares de residentes que estariam devendo mensalidades. Clínica em Porto Alegre acumula relatos de maus-tratos e investigações policiais Reprodução/RBS TV Quem vê o lar geriátrico em uma casa grande de esquina, na subida do Morro Santa Tereza, em Porto Alegre, sequer imagina o que familiares dizem que idosos teriam passado no local. Aberta em agosto do ano passado, a clínica Dulce La Vitta acumula relatos de maus-tratos e investigações policiais por crimes que teriam sido cometidos contra os idosos que residem no espaço. 📲 Acesse o canal do g1 RS no WhatsApp Entre março e abril, oito ocorrências policiais foram registradas na Delegacia do Idoso de Porto Alegre por supostos crimes cometidos no local que, além de maus-tratos, envolvem furto e estelionato. A clínica também já foi autuada pela Vigilância Sanitária de Porto Alegre por falta de alimentos e problemas de higiene. A pessoa responsável pela clínica nega as irregularidades. A alegação é de que as denúncias foram feitas por familiares de residentes que estariam devendo mensalidades do lar. (Veja a manifestação na íntegra abaixo) A reportagem da RBSTV conversou com uma das denunciantes. Joana Aita Costa decidiu quebrar o silêncio para evitar que outras pessoas passem pelo mesmo, o que ela considera um "circo de horror". Ela relata que sua tia-avó, uma idosa de 95 anos, perdeu quase 20 quilos nos seis meses em que ficou no local. "Ela chegou bem, bem gordinha, bem saudável... e saiu de lá desnutrida, desidratada, cadavérica e com suspeita de pneumonia. Tosse é incessante. Ela tá bem debilitada", afirma Joana. Familiares de idosos relatam falta de higiene, falta de alimentação, estelionato e até apropriação de bens Reprodução/RBS TV A família de Joana descobriu a clínica pelas redes sociais. Na visita para conhecer o local, feita um mês após a abertura, a aparência, segundo ela, era de "uma clínica maravilhosa": "Mas, depois de alguns meses, a gente começou a ver que a coisa não era tão maravilhosa assim... Era um circo de horror. Eu tirei ela de lá numa situação deplorável", diz. A tia de Joana não fala e tem dificuldade de locomoção após sofrer um acidente vascular cerebral (AVC), ainda antes de entrar na clínica. No tempo em que estava no local, a família notou que era frequente as vezes em que ela tirava do braço a sonda, o que foi interpretado como um pedido de socorro. A RBSTV também conversou com outro idoso que residiu no local por quatro meses. Lúcido e independente, ele decidiu sair por conta própria por entender que não havia condições de estar lá. O maior problema para ele era a higiene. A clínica, segundo o idoso, tinha dois vasos sanitários, mas um teria ficado entupido entre novembro e fevereiro. O homem afirma que não havia papel higiênico e fraldas sanitárias. Ele relata problemas com a alimentação. "De manhã, eram três bolachas e um pedaço de pão. Não tinha café, não tinha leite, vez ou outra era um suplemento alimentar. No almoço, ou era arroz com salsicha, o que era em 90% das vezes, ou polenta com uns pedacinhos de salsicha, ou arroz com poucos pedaços de frango. Tu imagina quarenta pessoas com três coxa e sobrecoxa picada? De noite, de novo, três bolachas e esse suplemento, que a gente não sabe o que era", relembra. O idoso também registrou uma ocorrência por furto de um pertence que não teria sido devolvido quando saiu e nunca mais apareceu. Joana e a família afirmam o mesmo: não puderam pegar todas as roupas e eletrodomésticos que haviam levado para a idosa. Clínica de idosos em Porto Alegre é alvo de investigações Reprodução/RBS TV Investigações policiais A delegada Ana Caruso, da Delegacia do Idoso, aponta que nas ocorrências outro crime chamou atenção dos policiais: os relatos de falta de assistência médica em casos de acidente. "São vários relatos de que eles eventualmente quebravam algum osso e não eram levados para o hospital e só recebiam analgésicos. Aí, quando o familiar visitava, eles relatavam que tinham muitas dores, os familiares levavam aos hospitais e aí sim era feita a radiografia e descobriram que eles estavam com ossos quebrados", pontua a delegada. Delegada Ana Luiza Caruso, da Delegacia de Proteção ao Idoso Reprodução/RBS TV Outra ocorrência que chegou à polícia trata de uma idosa que era mantida nua no lar, só de fralda, em meio a outros pacientes, mesmo homens. Para a delegada, era "uma forma de facilitar o trabalho das cuidadoras". Além das ocorrências de maus-tratos, uma das frentes da investigação é por estelionato. Isso porque há a suspeita de que o serviço anunciado pelos proprietários era um e a realidade encontrada, diferente. Em um áudio enviado a parentes de um idoso que estava checando a possibilidade de internação na clínica, um dos responsáveis pela clínica prometeu uma grande equipe multidisciplinar. "Temos também nutricionista, fisioterapeuta, somos entre duas enfermeiras, uma equipe de técnico de enfermagem, uma equipe de cuidadores. Também temos uma empresa especializada que presta os primeiros socorros para nós", anunciava o responsável. Para a polícia, uma mentira. A equipe não correspondia ao que era prometido e os ambientes não correspondiam ao anunciado. "Elas diziam que eram enfermeiras, que tinha um salão de jogos, que tinha uma sala de fisioterapia e, na verdade, a dona não é enfermeira, ela tem um curso de primeiros socorros apenas, não existe a tal sala de jogos, sala de fisioterapia, segundo nos relataram, nem nós vimos lá na visita", observou a delegada. Fachada da Delegacia de Proteção ao Idoso, em Porto Alegre Reprodução/RBS TV O que diz a proprietária A clínica Dulce La Vitta está registrada em nome de Jonathan Santos Silva, mulher trans que se identifica como Ariane e ainda não fez a mudança de documentos junto à Justiça. Tem o registro do CNPJ em nove de agosto de 2023. A reportagem esteve no local na segunda-feira (22). Ao chegar, Ariane não estava e funcionários ligaram para ela, que prometeu chegar em 30 minutos. No tempo de espera, teve início uma confusão. "Eu quero ir embora, eu quero ir embora! Eu não tô louco", gritava uma das pessoas. Ariane negou todos os relatos de familiares de residentes. Ela alegou que as denúncias estão sendo feitas por pessoas que não pagavam a mensalidade. "Não confere essa informação, inclusive são pacientes que os familiares tiraram da clínica porque a gente ficava em cima. Não pagavam a mensalidade em dia, material dos pacientes não era trazido, não vinham visitar os familiares. Essas informações não conferem", sustenta. A RBSTV perguntou como ela avalia o trabalho da clínica. "Meu trabalho é ótimo, tem nutricionista, a casa tá sempre bem limpinha", assegura. Clínica foi autuada pela Vigilância Sanitária este mês Reprodução/RBS TV Vigilância Sanitária autuou clínica A Vigilância Sanitária esteve no local na clínica no dia 11 de abril e autuou a proprietária. De acordo com a inspeção do órgão, foi constatada "a falta de alimentos, cozinha sem condições de higiene, falta de recursos humanos para a garantia dos cuidados aos residentes, sem condições de higiene adequadas nas dependências da geriatria, colchões sem revestimento impermeável". A Vigilância ainda apontou que o material de higiene dos residentes, como escovas, estava agrupado na mesma caixa. Outro ponto levantado pelos agentes de saúde é de que a "lavanderia não evidenciava as rotinas de higienização para as roupas e as roupas estavam sujas e acumuladas". A fiscalização não identificou provas de que havia idosos com sarna, como chegou na denúncia inicial. Uma denúncia anônima sobre o lar Dulce La Vitta também chegou ao Ministério Público. A promotoria de justiça dos Direitos Humanos de Porto Alegre diz que aguarda documentação da Vigilância Sanitária para avaliar o que será feito. VÍDEOS: Tudo sobre o RS

FONTE: https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2024/04/24/falta-de-higiene-maus-tratos-e-estelionato-lar-de-idosos-aberto-ha-menos-de-um-ano-e-alvo-de-oito-investigacoes-policiais.ghtml


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